Foto: Adriano Sobral

A impermanência é um fato.

A ideia de segurança e permanência é sempre, em alguma medida, ilusória. A maioria das coisas passam por nós e não ficam. Seguem seu trajeto, assumem outro rumo, passam tão rápido que nem temos tempo de pará-las, de olhar bem ou de pensar a respeito. Estamos um pouco saturados e nem tudo nos gera memória. Vivemos em meio ao excesso, com compromissos demais, gente demais, fatos demais e tempo de menos. Saber a que destinar nosso tempo, nossa vitalidade e atenção, torna-se uma tarefa cotidiana.

Com a audácia e a diligência de propor pautas, de interromper nosso ritmo e criar brechas na própria realidade reservadas às ideias, aos devaneios, à formação de sensos e de noções, atuamos no Ponto Digital, espaço online, dedicado às artes, às pessoas e ao Frestas.

Porque é tão difícil definir arte e todo o seu alcance? Como podemos nos relacionar com esse universo, tão distinto e ao mesmo tempo tão igual às nossas próprias linguagens? Ter um espaço destinado a perguntas pode ser mais interessante que o estabelecimento de respostas. Muitas vezes, reformular as indagações é mais importante que encerrá-las em conclusões.

Assim, o Ponto digital se dispõe como entremeio, se propõe intercessão. Tem a intenção de servir como liga entre os trabalhos artísticos trazidos pela segunda edição da Trienal (e todas as questões que com eles surgem) e nós – escritores, leitores, sociedade – estimulando o nosso lado mais curioso e questionador. O Ponto Digital quebra o compasso, irrompe no frenesi, nos atravessa de sopetão, mas pede instantes de respiro. Com toda sua virtualidade é, talvez, um espaço para contemplação. Não para a absorção passiva, apática e estanque. Mas para uma contemplação ativa, inquieta, viva e antenada, que pode abrir caminhos para a mudança, já que para alcançá-la, há que cruzar o percurso da análise. É, portanto, uma ponte para a observação. Um elo entre a arte e tudo o mais que circunda ao redor dela. Uma ponte onde nela a gente consegue parar, pensar, fitar a paisagem, gerar memória e seguir andando, sem ter que passar logo, e sendo, talvez, afetados por ela.

Escrito por:

Paola Fabres e Michelle Magrini