A segunda edição da trienal de artes Frestas de 2017 propõe um recorte que, por si, já representa uma fresta conceitual. Um espaço dinâmico de reapropriação das realidades que constituem a vida.
Ele se dilata e reconfigura, se expande e contrái, orientado pelas noções de pós-verdade e acontecimento, num processo de reciclagem de valores, sentidos, materiais, mas sobretudo dos olhares.
Através desta fresta não há resposta absoluta, mas um convite à observação das camadas de um processo gradual de implosão das certezas cotidianas, somado às poéticas que se evidenciam a partir disso, que transgridem, por sua vez, a rotina da própria história da arte.
O indivíduo contemporâneo conduz a mediação de sua experiência através dos ciclos de consumo, apropriacão e produção de conteúdos, constrói as identidades que representam seus valores e sentimentos em meio às possibilidades que a sociedade oferece e impõe. Um mosaico em processo de enriquecimento pelo contato com experiências de diversidade, numa encruzilhada entre as questões de transformação cultural, liberdades expressivas e moral.
Neste cenário enxergamos a diluição das verdades plenas numa solução de indícios parciais, cabendo ao indivíduo, munido de sua formação pessoal, adaptar-se a este contexto e formatar as visões do mundo que levará consigo.
Podemos perceber isso quando se torna necessário avaliar diversas fontes para descobrir se determinada celebridade realmente faleceu. Ou talvez durante o almoço, quando se come papelão desfaçado de carne. O exemplo torna-se óbvio na esfera política.
(Ou não).
Encontro uma tradução sensível do conceito neste trecho da canção de Tom Zé:

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida pra poder morrer
Eu tô me despedindo pra poder voltar

A materialização da proposta curatorial no espaço se dá em tantos formatos e processos paralelos e/ou divergentes que a percepção dos discursos de cada obra se amplia e se encontra com a obra seguinte, possibilitando um universo de representação distorcido e aberto às traduções de cada leitor.

A exposição condensa esses questionamentos através dos trabalho de artistas brasileiros e estrangeiros, representantes de diversas gerações, em obras que demonstram a natureza múltipla da arte contemporânea, em seus processos e poéticas. Além da composição física da trienal Frestas no Sesc Sorocaba, também há obras espalhadas pela cidade, explorando o discurso artístico no contexto do espaço público e promovendo o encontro com a esfera inusitada da arte, assim como seus desdobramentos políticos. Este contato se estende para o meio virtual, pela presença de obras de arte digital e pelos olhares compartilhados neste espaço.
A Trienal de Artes Frestas estará em cartaz de 12/08 a 03/12.

Fotos: Adriano Sobral

Escrito por:

Wagner Linares