Donde nada ocurre

Era uma vez, um lugar, onde nada acontece. Não pode falar, não pode ouvir, não pode tocar, não pode correr e nem ver.

Entro nesse lugar, ou caio, à procura pelo tempo. O tempo, nesse mundo, não existe, é uma ilusão. Já que ele não existe, tudo aqui está parado, nada se move, nada se ouve, nada acontece. O que faremos? Sobrevir(veremos) então.

Já que nada acontece, acon(tecer)emos.

Já que não se pode falar, não falo. Acon(teço).

Em silêncio eu caminho, e falo com as mãos.

Já que não se pode ouvir, não ouço. Acon(teço).

Em surdez eu caminho, e ouço com o cheiro.

Já que não se pode tocar, não toco. Acon(teço).

Tateando com os pés, eu toco, descalça.

Já que não se pode correr, não corro. Acon(teço).

Corro com uma perna só e danço.

Entro nos interstícios do tempo, e assim, aconteceremos, então.

 

SÂMELA