O Nome do Boi

Rede de artistas de diversas regiões do Brasil, O Nome do Boi organizou-se em 2016 para responder à crise política no país, assumindo estratégias artísticas e políticas variadas para deflagar resistências. Busca, assim, tecer um testemunho público deste momento da história brasileira por meio de contranarrativas que, rascunhadas por múltiplos autores, sejam capazes de denunciar personagens e motivações dos projetos de poder em disputa. “Dar nome aos bois”, como diz a expressão popular.

Para a Trienal, O Nome do Boi trabalha em articulação com diferentes espaços e agentes de Sorocaba, promovendo encontros, debates, oficinas e ações conjuntas que tomam corpo tanto na unidade do Sesc como em outros locais e percursos pela cidade. Entre as atividades propostas, a programação conta com oficinas gráficas no Espaço Educativo e uma série de procissões pelas ruas da cidade, acompanhadas por bicicleta de som e de material produzido em ateliê coletivo.

Dias & Riedweg

Rio de Janeiro, 1964 e Lucerna, 1955. Vivem no Rio da Janeiro

As instalações da dupla Dias & Riedweg são, em sua maioria, realizadas em colaboração e diálogo intensos com grupos sociais minoritários, invisibilizados e excluídos.

Desde 2004, os artistas desenvolvem projetos que investigam a representação da alteridade na história, resultando em trabalhos como Amparo (2013) e Funk Staden (2007).

Realize suas fantasias é um trabalho inédito que remete ao anúncio “Realize suas fantasias sexuais. Fotógrafo + telefone”, publicado por Charles Hovland durante cerca de vinte anos em jornais nova-iorquinos. Por meio dessa chamada, o fotógrafo se dispunha a realizar fantasy photos, ou seja, registros em branco e preto de todas as fantasias e desejos secretos dos clientes – homens, mulheres, transexuais.

Paralelamente a essa atividade, Hovland passou a fotografar, em cores, modelos para revistas de nu masculino. Em quase duas décadas, constituiu um arquivo de cerca de três mil folhas de contato em branco e preto, 450 mil slides e cerca de 300 polaróides.

Dias & Riedweg – que conhecem Charles Hovland desde o início dos anos 1990 – exploram em Realize suas fantasias as potencialidades e particularidades das narrativas visuais contidas nesse arquivo, especificamente em relação ao registro subjetivo e pulsante da sexualidade e da Nova York das décadas de 1970 e 1980.

Obra

Waiting for my Model [Esperando meu modelo], 2017
videoinstalação

A partir do acervo de Charles Hovland
Fotografia: Paul Carpenter, Dias & Riedweg e Charles Hovland
Scans de fotografia analógica e tratamento de imagem: Anna Luiza Braga
Captação de audio: Paul Carpenter
Assistência: Juliana Franklin e Anna Luiza Braga
Transcrição: Anna Luiza Braga
Agradecimentos: Charles Hovland, Marcello Dantas, Margery Pearlmuter, Carl Friedrich, Anna Luiza Braga, Juliana Franklin, Karen Haley, Eduardo Brandão, Daniela Labra, Angela Madalegna, Paula Marujo, Madai Produções, Galeria Vermelho, Sesc São Paulo

Diango Hernández

Sancti Spiritus, 1970. Vive em Düsseldorf

As práticas artísticas de Diango Hernández estão em relação direta com a cultura tropical caribenha e o contexto sociocultural e geopolítico cubano. Os embargos e as crises econômicas, os conflitos cubano-americano, a ideologia socialista, a Cuba pré e pós-revolucionária são temas recorrentes em suas construções escultóricas e pictóricas.

Hernández, que também é designer e arquiteto, participou por dez anos do Ordo Amoris Cabinet, coletivo de artistas e designers cubanos que, no contexto da ideologia soviética e da precariedade material, tecnológica e econômica, projetaram objetos que assumiam essa situação como atributos – de forma similar ao que se reconhece como estética da gambiarra na cultura brasileira. O resultado era um híbrido, feito com toda sorte de materiais, que provisoriamente tinha a forma e a função de um objeto de “design”. A capacidade de criar soluções engenhosas com recursos limitados está em consonância com o cotidiano dos cubanos, que pelas contingências aprenderam a transformar a escassez material, financeira e tecnológica em uma força criativa original.

Obra

Leg me, Chair me, Love me [Me perna, me cadeira, me ama], 2010
cadeira, luz, madeira e motor
Coleção Moraes Barbosa, São Paulo

Denis Darzacq

Paris, 1961

O trabalho fotográfico de Darzacq questiona a construção do que se entende como “normal”, assim como a uniformização dos gostos, dos ideais e das atitudes. Desta maneira, aborda os limites de uma homogeneidade constrangedora, salientando o potencial que emerge das minorias étnicas e sociais, ou de pessoas diagnosticadas com deficiências físicas ou psíquicas. O artista formula uma interrogação sobre o lugar do indivíduo e da alteridade em uma sociedade que ignora a diferença em prol de uma normatização do comportamento e dos corpos com base em padrões hegemônicos de vida e sociabilidade. Na série Hyper [Hiper], Darzacq convidou jovens para interpretar movimentos de dança de rua em meio a um supermercado. Posteriores aos protestos nas periferias de Paris em 2005, as posturas corporais inertes em meio às embalagens coloridas sugerem rebeldia e um desejo de liberdade diante de uma ordem estabelecida. A série Doublemix aproxima fotografias do artista a peças de cerâmica confeccionadas por Anna-Iris Lüneman. Entre o pixel e a materialidade do barro, um espaço híbrido abre uma gama de possíveis significados.

Obras

Doublemix n°02, 2014
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Doublemix n°10, 2014
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Doublemix n°01, 2014
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Doublemix n°13, 2015
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Doublemix n°26, 2015
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Doublemix N°20, 2015
foto e cerâmica | com Anna Lüneman

Série Hyper n° 07, 2007-2009
impressão em jato de tinta

Série Hyper n° 08, 2007-2009
impressão em jato de tinta

Série Hyper n° 15, 2007-2009
impressão em jato de tinta

Série Hyper n° 16, 2007-2009
impressão em jato de tinta

Série Hyper n° 20, 2007-2009
impressão em jato de tinta

Zé Carlos Garcia

Aracajú, 1973. Vive no Rio de Janeiro

As esculturas de Zé Carlos Garcia se apresentam como entes insólitos que podem tomar a forma de insetos imaginários, uma vez que resultam de uma combinação de membros de diferentes espécies, ou ainda da mescla de plumas e partes de mobiliário de madeira. Dessa junção originam-se híbridos que, além de conservar os significados das partes que os compõem, geram uma curiosidade mórbida em relação à sua natureza. Garcia parece assim evidenciar certa perversidade do público, refém, entre estranhamento e fascínio, de seu próprio voyeurismo diante de corpos dilacerados, por mais fictícios que sejam.

Obras

Cadeira, 2009
penas e mobiliário

Sem título, 2012
penas e mobiliário

Sem título, 2016
angeli branco torneado

Ganimedes, 2016
penas

Pássaro, 2010
mobiliário e arte plumária

Jogo, 2013
madeira torneada e tinta automotiva

Sem título, 2013
50 peças em madeira, penas e insetos

Yara Pina

Goiânia, 1979.

Interessada na coreografia do corpo que agride, Yara Pina explora o potencial do gesto violento e destrutivo. Em intervenções meticulosamente planejadas, destrói desde resíduos vegetais e fragmentos ósseos de animais, objetos corriqueiros como mesas ou cadeiras, até cavaletes e molduras. Essas performances se configuram como um embate físico de seu corpo com a matéria e o espaço, no qual entra em jogo seu esforço diante da resistência desses materiais. No entanto, o foco da artista está no resultado das degradações infligidas aos objetos, a saber, as marcas desses atos depredadores, únicas evidências remanescentes de uma presença aniquilada.

Obras

Sem título 1, 2017
objetos diversos

Sem título 2, 2017
cadeiras

Sem título 3, 2017
violão

Sem título 4, 2017
carvão, facão, crânio bovino, terra vermelha

Sem título 5, 2017
carvão, facão, terra vermelha

Sandra Monterroso

Cidade da Guatemala, 1974. Vive em Viena

Muitos dos objetos, instalações, performances e vídeos de Sandra Monterroso são fruto de um processo de reaproximação com suas matrizes genealógicas e, em particular, com as mulheres de sua família. Dessa forma, a artista efetua, como outros de sua geração, um movimento de reconhecimento da Guatemala e de suas raízes indígenas, dificultado por anos de conflito armado interno, entre 1960 e 1996. Essa reapropriação com história e cultura locais aparece como uma forma de resistência diante do legado colonial e da intensificação dos efeitos do capitalismo global.

O trabalho Columna vertebral y los rumbos cardinales [Coluna vertebral e os pontos cardeais] é sintomático de uma retomada de conhecimentos e fazeres manuais autóctones. No projeto, ainda em andamento, a artista se propõe a reencontrar parentes, conviver com eles e coletar suas tradicionais saias. Empilhadas em colunas, essas peças de vestuário tornam-se monumento e permitem homenagear seus familiares, as tradições e as memórias que preservam há gerações. As colunas vermelha e amarela correspondem respectivamente ao leste e ao sul na cosmovisão dos povos maias.

Obras

Gestos decoloniales en polvo
rojo [Gestos descoloniais em pó
vermelho], 2017
colorau, linho e vídeo
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO E
EDIÇÃO DE VÍDEO Mario Molina e
Carlos Guillermo Beachi

La venda, la herida 5 [A venda,
a ferida 5], 2017
aquarela, colorau, nanquim e
papel Warro

La venda, la herida 1 [A venda,
a ferida 1], 2016
aquarela, colorau, nanquim e
papel Warro

La venda, la herida 4 [A venda,
a ferida 4], 2016
aquarela, colorau, nanquim e
papel Warro

Imperfecciones 3
[Imperfeições 3], 2017
aquarela, colorau, nanquim e
papel Warro

Imperfecciones 5
[Imperfeições 5], 2017
aquarela, colorau, nanquim e
papel Warro

Columna vertebral roja [Columna
vertebral vermelha], 2016
87 telas em gama cromática
vermelha, cortes de Alta Verapaz
APOIO LOGÍSTICO EM ALTAVERAPAZ,
GUATEMALA María Flory Quim,
Maria Quim e Silvia Delgado Quim
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO NA
GUATEMALA Mario Molina

Irene de Andrés

Ibiza, 1986. Vive em Madri

O que faz um local se converter em destino turístico massificado e parte da indústria do entretenimento? Como, nesse processo, esses lugares se moldam a uma imagem exótica para exportação? Quais são os efeitos da adequação a uma identidade postiça para suprir expectativas estrangeiras? Essas são algumas indagações que norteiam a obra de Irene de Andrés.

No projeto Donde nada ocurre [Onde nada acontece], a artista espanhola investiga a história de cinco discotecas abandonadas em Ibiza, sua cidade natal. As boates foram fundadas no final dos anos 1960 e início dos 1970, quando a ilha se tornava um renomado balneário com vida noturna intensa. Heaven [Paraíso] traz a ambiência de um desses antigos antros hedonísticos, batizado como “paraíso”.

Obras

Heaven. Donde nada ocurre
[Paraíso. Onde nada acontece], 2015
videoinstalação
COLABORAÇÃO Diario de Ibiza

Hito Steyerl

Munique, 1966. Vive em Berlim

Em ensaios, conferências e instalações audiovisuais, Hito Steyerl reflete sobre as condições de produção, circulação e consumo de imagens na era da globalização digital. Suas análises salientam os intrincados vínculos entre o campo da arte e os interesses econômicos e geopolíticos em escala internacional. Com base em uma pesquisa extensa, Steyerl associa imagens e dados de fontes heterogêneas, muitas vezes narrados em primeira pessoa, evidenciando essas relações complexas e encobertas entre política, cultura e tecnologia.

Guards [Guardas] se estrutura em torno de entrevistas com dois seguranças de museu que falam sobre seu trabalho e experiências prévias como policiais ou militares, por meio das quais Steyerl parece estabelecer um paralelo com os meios de controle e vigilância colocados em prática para supostamente proteger o patrimônio artístico e a nação.

Obras

Guards [Guardas], 2012
vídeo monocanal, 20′
Coleção Moraes Barbosa