As faces dos alunos vão derretendo durante a mediação

É interessante perceber suas expectativas em relação à visita.

Piscina. Comedoria. Passeio. Arquitetura. Pessoas. Pessoas, pessoas, pessoas. Piscina. Aulas. Pessoas. A vista. A receptividade. Pessoas. Passeio. Piscina. Piscina. Piscina. Piscina. Piscina.

Quem é você fora da escola, professor?

Eles o desafiam. Eles o desestruturam.
Eles entram na exposição, e diante da primeira obra há sempre o impacto.

Minuciosamente como quem compõe ideologicamente a obra

Exercitamos a autonomia de interpretação.

A face, que antes era um sei quê,
De uma esperança
Derrete,
Pra um algo sombrio
Um lugar de dúvida
E depois da raiva
E depois da admiração

A arte incomoda.

Um aluno me diz que existem corpos certos cartesianos, e formas cartesianas de se relacionar.

Diz sem certeza.
Diz como quem pensa.

Diz como quem reza.

– Assumir que existe um corpo desviante é assumir que deus errou.

– Eu nunca ouvi dizer que Deus definiu papeis de gênero. Deus criou corpos. O homem nomeou de homem e mulher.

Gênesis “27 E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Eu penso “Quem criou homem, quem criou deus” mas sou rompida

– Eva e adão, nome de mulher e homem

Diz sem certeza.
Diz como quem pensa.

Diz como quem reza.

Tensão na sala.
Eu rompo com um sorriso.
Mas a tensão nunca é rompida.
Ela reverbera
No estômago
Nos olhares desconfiados
Numa admissão culpada,
Que há corpos que não são cartesianos

A arte fura amores.

NATALI MESQUITA