EntreFrestas pretende criar um ambiente permanente de formação em arte contemporânea, com a finalidade de empoderar e fortalecer a cena artística local, bem como contribuir com um processo perene de reflexão e educação tendo a arte como mote. Tal projeto se insere como uma continuidade entre as edições de Frestas – Trienal de Artes, e apresentará oficinas, cursos e exposições, além da efetivação de parcerias dos mais variados tipos, com o objetivo de fortalecer as ações da trienal em Sorocaba e região.
Dentro da programação do EntreFrestas, entre abril e julho ocorreu o curso Circuito de Arte em Rede – Reconhecimento de uma coletividade, com a curadora e mestra em História Social da Cultura, Beatriz Lemos.
Direcionado aos artistas, curadores, produtores de arte, mediadores, pesquisadores da área, gestores e demais interessados no campo profissional das artes visuais contemporânea, o curso teve a proposta de produzir, junto a esses agentes da arte, ferramentas para o reconhecimento enquanto cena artística na cidade de Sorocaba e levantar questões pertinentes aos campos das subjetividades, política e sociedade no mundo contemporâneo.
Como resultado do curso, os participantes realizaram um zine.
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Os participantes irão fotografar com o celular algo no ambiente da gráfica ou da exposição que tenha causado interesse ou incômodo. Depois a fotografia será impressa e os participantes poderão modificá-las por meio de colagens.
Inscrições no local e horário da atividade. Vagas limitadas. 12 anos
Femme Maison, de Panmela Castro, na parede do Palacete Scarpa, sede da Secretaria da Cultura. Construído em 1922 pelo Banco União, o Palacete abrigou, ainda nos anos 20, o Partido Nacional Fascista de Sorocaba.
Alguém veio contar: tem uma vulva no meio do caminho – lá na Souza Pereira, sentido Álvaro Soares, mirando os carros no contrafluxo. Ladeada por duas mulheres, que com ela compartilham o olhar que mora ali, na brecha, a figura ocupa, junto com o letreiro do estacionamento, o avesso do Palacete Scarpa, sede da Secretaria da Cultura. É fachada? A parede, revestida com tinta e polêmica, causou a racha da opinião pública: há quem acredite que Panmela Castro, artista participante da segunda edição do Frestas e que propôs a intervenção no prédio histórico, deva se retratar. Por “vandalizar” um edifício tombado e por ofender as mulheres “de bem”, resta à obra ser apagada.
A quem pertence o corpo da cidade? A quem nossos corpos servem?
Se nossa carne é pública, se o direito ao corpo da mulher é discutido em tribunas, divide opiniões, move discursos de ódio – “feminazi, aborteira, puta” – quão apropriado é que esta reflexão ocupe o próprio espaço público? Quão simbólico é ter nossas vozes representadas por homens, que estes tomem a nossa frente e decidam o que nos ofende, o que nos viola? Mansplaining, diria Rebecca Solnit, historiadora, escritora e ativista norte-americana, em “Os homens explicam tudo pra mim”. Cidade ou mulher, somos espaço público, estrangeiras em nossas próprias vontades. Precisamos de um herói para nos defender da vergonha de enxergar nosso próprio corpo projetado no corpo urbano?
Se é para tombar, tombemos
A preservação da memória da cidade é causa concreta: se o tombamento do Palacete é o mote para o veto, talvez a má conservação dos patrimônios históricos seja a pauta mais urgente. Será o tombamento argumento também capaz de frear a mercantilização do corpo urbano, o excludente projeto vertical que segue erguendo fálicos arranha-céus? São interesses públicos ou privados que determinam a ocupação dos equipamentos municipais? Em nome da ordem e da segurança e sob a espreita da especulação imobiliária, a cidade cresce segregada e privatizada. Onde mora o limite entre revitalização e gentrificação?
Fachada do Palacete Scarpa, em imagem do Google Maps.
Como afirma Angela Davis, filósofa, feminista e ícone da luta pelos direitos civis, é preciso considerar a intersecção entre raça, classe e gênero para entender as nuances das opressões. Ali, na parede do Palacete, meio e mensagem se encontram para revestir com outras camadas a Femme Maison. Inserido numa área já tomada pelo grafite e pelo pixo, na qual o comércio de bens divide espaço com o comércio de corpos, o Palacete Scarpa conversa com seu entorno, acolhe, em sua própria estrutura, a cultura e o discurso que moram ali. Fora do cânone, o grafite resiste como expressão da subjetividade humana, no espaço entre a arte e o vandalismo. No próprio ato de se fazer ver e ocupar lugares majoritariamente excludentes, torna-se instrumento de denúncia da violência de um projeto urbano que não contempla todos os seus moradores.
Belas, recatadas e do lar
Entre as minorias segregadas no espaço da cidade, estão também as mulheres. Em tempos de gestões higienistas e que promovem a redução da figura feminina a papéis de submissão e subalternidade, discutir nossa representatividade por meio do grafite, linguagem que leva a marca da rua e da insubordinação, amplia a potência do discurso. Mais do que isso, coloca em xeque os traços de exclusão que podem ser percebidos no próprio cerne do levante da arte urbana, já que tanto o pixo como o grafite tem dado maior protagonismo ao gênero masculino, o que tem acionado novas vozes que batalham pelo reconhecimento e balanceamento da questão. Diante da insistência em nos condicionar pelo sexo, a vulva na parede subverte uma existência alienada por representações objetificadas, hipersexualizadas e mercantilizadas de nossos corpos, historicamente confinados ao espaço privado.
Quem está dentro da caixa?
A demonização do corpo feminino como ferramenta de controle e dominação atravessa a história. Desde Eva e Lilith, nosso corpo é a própria alegoria da caixa que guarda em si o caos do mundo. Enquanto isso, a misoginia, a cultura do estupro e o machismo estrutural seguem erguendo paredes, privando mulheres de uma existência plena de direitos e autonomia. Pela fenda de Pandora, nos é dada uma chance de encontro com nosso próprio mistério. Se a desordem já é presente, se a violência e a destruição já estão do lado de fora, talvez seja hora de buscar nas frestas, humanas ou urbanas, a esperança que resta lá dentro.
Escrito por:
Aline de Castro
Os participantes irão fotografar com o celular algo no ambiente da gráfica ou da exposição que tenha causado interesse ou incômodo. Depois a fotografia será impressa e os participantes poderão modificá-las por meio de colagens.
Inscrições no local e horário da atividade. Vagas limitadas. 12 anos
Os participantes irão fotografar com o celular algo no ambiente da gráfica ou da exposição que tenha causado interesse ou incômodo. Depois a fotografia será impressa e os participantes poderão modificá-las por meio de colagens.
Inscrições no local e horário da atividade. Vagas limitadas. 12 anos