Traves em Balanço

A primeira imagem que cruza nossa frente ao entrar no espaço expositivo da segunda edição da Trienal das Artes de Sorocaba é a de um ambiente gradeado construído com barras de metal. Um tipo de gaiola em grande escala. De imediato, se enxerga a mostra por entre frestas.

Raul Morão, artista do Rio de Janeiro, na obra Passagem (2010), parte de uma pesquisa em que capta a presença da grade no espaço urbano. Isso se nota logo ao lado, próximo a essa instalação, onde se encontra uma vitrine com uma coleção de fotografias. Nessas imagens, percebe-se uma serialidade formal que surge pela reiteração dessas estruturas metálicas. Essa construção tipológica de um cerceamento constante que toma a cidade nos permite inferir a hostilidade presente no ambiente social. Da mesma maneira, a recorrência imagética aciona em nós a consciência de uma naturalização dessas armações pelas ruas e por toda parte, bem como de sua incorporação na visualidade coletiva.

Ao lado da vitrine, o artista aloca uma instalação, construída pelo mesmo material dos gradeados e dá corpo a um ambiente quase hermético, retangular, que nos remete ao encarceramento percebido no cenário urbano e aos limites impostos pela própria arquitetura. Mas ao mesmo tempo em que se evidencia essa noção de claustro, esse espaço se torna permeável. Abrem-se portas de acesso nos dois extremos da estrutura, criando uma possibilidade de fluxo. Ao invés de bloquear o acesso, essas grades permitem a livre circulação.

Dentro desse mesmo espaço, Raul joga com objetos menores, como peças escultóricas construídas a partir do mesmo material. Remetendo à estética construtivista, mas que avança no tempo, se contamina com o assunto social e faz uso das estruturas corriqueiras presentes na própria cidade, o artista ressignifica essas grades. Ao invés de pensá-las e manifestá-las como símbolo de obstrução, opta por apresentá-las como peças cinéticas, dinâmicas, que propõem a interação e buscam o equilíbrio.

por PAOLA FABRES