Thiago Honório

Carmo do Paranaíba, 1979. Vive e trabalha em São Paulo

Alvo, Revolver e Bala são obras inéditas, que, expostas na forma de tríade, estabelecem uma relação discursiva de reciprocidade. Em Bala, um boneco em escala humana recepciona os visitantes oferecendo seu próprio corpo para ser devorado: seu esqueleto é constituído de bandejas repletas de balas de coco. Trata-se de uma réplica de bonecos típicos das festas infantis dos anos 1970 no Brasil. A palavra “bala” tem aqui dois significados: é terna e lúdica quando se refere aos confeitos oferecidos aos visitantes, mas também violenta quando remete à munição de armas.

O tema da violência permeia a relação com as outras obras, como a instalação Revolver, constituída de oito carcaças de revólveres antigos, dos últimos três séculos. Honório frequentemente utiliza objetos que têm carga histórica, porém os atravessa com outras narrativas no presente, constituindo trabalhos que falam sobre cruzamentos de tempo, memória e violência. Aqui, a palavra “revolver”, além de arma de fogo, também sugere “voltar”, “retroceder”. A terceira parte do tríptico, Alvo, oferece um comentário tragicômico sobre a angústia e a violência contidas nesses trabalhos: um nariz de palhaço é esticado até alcançar a forma de um sorriso tenso.

[LB]

Obras

Revolver, 2014/2017
8 carcaças de revólveres dos séculos XIX, XX e XXI soldadas a um tubo de aço

Bala, 2015/2017
boneco-baleiro natural 1:1; balas de coco embrulhadas em papel rococó

Alvo, 2004/2017
régua de acrílico de 30 cm, haste de acrílico, nariz de palhaço profissional, elástico

Daniel Senise

Rio de Janeiro, 1955

No início da carreira, nos anos 1980, Daniel Senise participou de exposições que legitimaram sua obra no contexto da chamada “Geração 80”, entre um conjunto de artistas que, apesar de diverso, foi ressaltado pela crítica devido ao investimento em uma pintura gestual, de cores vibrantes. Desde o fim dos anos 1990, Senise vem realizando obras que se situam entre a pintura e a colagem, principalmente por usar materiais apropriados do cotidiano de seu ateliê, como a sujeira do piso, pregos, páginas de livros e catálogos de arte, entre outros. Os bastidores da pintura tornam-se, dessa forma, o próprio assunto da obra. Textura e variações cromáticas são geradas com uma técnica que se assemelha à da monotipia, em que pigmentos e formas são transferidos de um plano a outro por contato.

Os trabalhos realizados para Frestas têm como suporte fotografias do refeitório de funcionários da Estrada de Ferro Sorocabana, uma das principais ferrovias do século XIX e meados do XX. Replicando sua técnica sobre tela, o artista justapõe nas imagens objetos recolhidos no local que já foi um fervilhante ponto de reunião de trabalhadores, e atualmente encontra-se abandonado.

Obras

Sorocabana V, 2017
Objetos (4 peças de madeira) colados
em fotografia adesivada em fotografia
AGRADECIMENTO Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP)

Sorocabana III, 2017
Objetos (azulejos) colados em fotografia
adesivada em alumínio
AGRADECIMENTO Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP)

Sorocabana II, 2017
Objetos (azulejos) colados em fotografia
adesivada em alumínio
AGRADECIMENTO Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP)

Sorocabana IV, 2017
Objeto (madeira) colado em fotografia
adesivada em alumínio
AGRADECIMENTO Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP)

Sorocabana I, 2017
Objetos metálicos rebitados em fotografia
adesivada em alumínio
AGRADECIMENTO Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo (IFSP)

Daniel Lie

São Paulo, 1988

Plantas vivas e em decomposição adornam a estrutura da passarela que conecta os dois edifícios do Sesc Sorocaba.
Ao mesmo tempo que celebra as passagens, Passa logo também é um comando bem-humorado para os visitantes: seguir o curso de tempo proposto pela arquitetura sem delongar-se demais no espaço.

A obra confronta o ritmo precipitado da vida contemporânea com os ciclos dilatados da natureza. O artista costuma usar matéria orgânica (plantas, fruta e terra) para construir estruturas que permitem observar a impermanência, como em uma cerimônia lenta e pública rumo a um fim inevitável. Durante a mostra, a celebração se estenderá aos ritos de passagem, de um edifício ao outro, de uma etapa à subsequente, da vida à morte.

Obras

Passa logo, 2017
técnica mista
TÉCNICAS VERTICAIS Arte Técnica Solução em Instalações de Arte
TÉCNICO RESPONSÁVEL Haroldo Alves

Cleverson Salvaro

A análise do contexto expositivo costuma ser o primeiro passo de Cleverson Salvaro para elaborar suas obras, que dizem muito sobre a conjuntura geográfica, econômica, social e cultural dos lugares que habita. Em Frestas, Salvaro é artista residente e desenvolve uma proposta de intervenção urbana e expositiva com restos de construções, pedras e outros materiais encontrados pela cidade. Tal ação partiu da impossibilidade de realizar um outro projeto: a construção de uma ruína monumental no terreno apelidado de Trevo da Morte pelo alto índice de acidentes, na estrada que liga as cidades de Sorocaba e Votorantim. Sua investigação remete a discussões sobre território e fronteira, porém carrega um dado mais específico em sua localização. Durante anos, houve disputa judicial entre os dois municípios pela retenção dos impostos do Shopping Esplanada, edificado na divisa de ambos.

A escultura proposta também remeteria a outro imbróglio de Sorocaba: uma estrutura de cerca de vinte metros de altura conhecida pela população local como Aranha do Vergueiro. Erguida originalmente na década de 1960 para ser uma grande igreja, a construção de concreto lembra uma aranha e encontra-se abandonada. Salvaro planejou realizar sua escultura em camadas, de modo que pudesse ser abandonada assim que os recursos destinados à construção se esgotassem. A obra foi idealizada para ser largada ainda incompleta – sua descontinuidade seria intencional e sua concepção se originou na perspectiva de falência do projeto. Com a impossibilidade de ocupar o local desejado por questões de segurança, as ruínas deste monumento que sequer existiu foram de uma vez espalhadas por pontos da cidade e pela exposição, desmanchando-se no tempo e no espaço de Frestas e Sorocaba.

Bruno Baptistelli

São Paulo,1985. Vive entre São Paulo e Budapeste

Interessado na arquitetura do Sesc Sorocaba, Bruno Baptistelli investigou as rampas de acesso, corrimãos e pequenos degraus do estacionamento. Considerando sua especificidade, construiu esculturas com materiais e procedimentos que podem se confundir com partes do edifício.

Em sua trajetória, o artista costuma ocupar e interferir em espaços, muitas vezes de maneira sutil e imperceptível. Na série Reorganizações urbanas (2008-2010), passou cerca de três anos compondo geometrias a partir de detritos e objetos entulhados em vias públicas. Havia, com isso, o desejo de tornar visível uma intenção artística no dia-a-dia da cidade.Já na série Narrativas cotidianas, em andamento desde 2011, Baptistelli registra em fotografias sua deriva nas ruas e as curiosidades formais que costumam passar despercebidas pelos transeuntes, como figuras e composições que se repetem aleatoriamente.

Obras

Sem título, da série Tolos, 2017
concreto e metal
PRODUÇÃO Ricardo Donadio (fibra Arte & Produções)

Ricardo Càstro

São Roque, 1972. Vive entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Abravanar é um verbo inventado para designar modos de liberar energia vital em interação com elementos de uma memória cultural, hora abstratos, hora claramente referendados nas festas populares, nos cultos religiosos e na mídia de massa. Quem abravana pode expandir-se a partir da experiência sensível de cores e luzes, da música dita como mantra, do corpo que recebe, transpira e conecta. Ricardo Càstro abravana desde o início dos anos 2000 e isso lhe rendeu uma trajetória de manifestações tanto artísticas quanto espirituais, tanto suas, às vezes íntimas, quanto de outros, parceiros e públicos, aos quais oferece beleza em busca empatia e troca.

Wava dispõe de três portais: o Canto platina, o Naco da escada e a Mesa de centro. Em prata, dourado e cristal, respectivamente, eles propiciam rituais de meditação. Uma vez ativados em sua totalidade (assim pede o artista), aguçam a percepção de uma onda que, embora invisível, possui alta frequência e capacidade de alastrar-se e intensificar-se. Dali para a cidade de Sorocaba, na qual passou um mês em residência, ou para a internet, onde amplificou essa presença e possíveis interlocuções em redes sociais como o Google Maps e o Instagram, Ricardo foi espalhando pistas, criando vias de acesso na forma de pequenos convites. Das geometrias à deriva cigana, passando por tarô na praça, performance diante do monumento oficial, caras e bocas, tudo é frugal e exuberante, mas é bom lembrar: a exuberância é só um pretexto abravanista.

Obras

Wava, 2017
técnica mista
PARTICIPAÇÃO André Bragança, Gabriel Junqueira e Marcelo Fagge

WAVA é uma onda invisível, que pode emanar de três elementos (portais) aqui dispostos em triangulação. Neste espaço, qualquer pessoa pode ativar a onda. A sequência de interação com os elementos deve ser definida por cada participante, assim como o ritmo da vivência. Se sugere entrar sem sapato. As possibilidades de interação sugeridas são:

Canto Platina _RECEBER
Deitar no canto e permanecer desta forma até entrar na frequência do raio platina. Aqui o tom é do descanso, da meditação, da atenção na respiração, da internalização da energia – sintonização.

Naco de escada _GRITAR
Subir no segundo degrau do volume, concentrar o pensamento em algo com que queira romper e daí gritar muito alto (o mais forte possível). Aqui o tom é de radicalização para movimentar energia pelo impulso, da possibilidade de trazer questões internalizadas para o campo externo – liberação.

Mesa de Centro _DIALOGAR
Conversar com o bola de cristal de forma mental, sem tocá-la. Ver a sua sorte, visualização. Aqui o tom é do entendimento, da reformulação e da possibilidade de redirecionamento das idéias – redesenho.

Simone Cupello

Niterói, 1962. Vive no Rio de Janeiro

O movimento de justaposição, fricção e intersecção de linguagens artísticas é comum à matriz de pensamento que norteia os trabalhos de Simone Cupello. Pesquisadora de imagens pessoais descartadas, a artista vem desenvolvendo instalações e formas orgânicas que se utilizam desses arquivos como matéria, destituindo sua função original de memória.

É o caso das obras Sorrisos em caixa e Beatriz vai à Itália,  pedras esculpidas a partir de fotografias prensadas. Como as rochas, que são acúmulos de materiais orgânicos que se sedimentam em uma nova forma, nas pedras de Cupello o conteúdo perde-se frente à concentração, ao adensamento e à abundância. Na Trienal, a artista também apresenta Olhares privados, instalação formada por centenas de fotografias justapostas e sustentadas por varais de cabo de aço, formando um volume flutuante no espaço expositivo.

[UC]

Obras

Olhares privados, da série Varais, 2017
fotografias apropriadas, cabos de aço e grampos de metal

Sorrisos em caixa (Yeda, Franklin e seus amigos), 2017
fotografias apropriadas esculpidas

Beatriz vai à Itália, 2015
fotografias apropriadas esculpidas
PARTICIPAÇÃO: Fotos Contam Fatos (Galeria Vermelho) e Duas Naturezas (Central Galeria)

Rafael Alonso

Niterói, 1983. Vive no Rio de Janeiro

Banquinhos de madeira usados; cadeiras desenhadas por um designer conhecido; placas de acrílico; camisas de malha; Eucatex, MDF ou a madeira que restou de um móvel usado; fita adesiva; aglomerado, compensado: essas são as “telas” ou superfícies nas quais Rafael Alonso realiza suas pinturas. São objetos de uso comum que agregam valores como simplicidade e precariedade ao trabalho, tensionando a “nobreza” das paredes de museus, galerias e feiras de arte a que se destinam, profanando uma certa sacralidade e fetichismo envolvidos nas formas de exibir arte.

Em cores primárias ou secundárias, preto e branco ou em neon e escuros retrô futuristas, observam-se nas pinturas de Alonso sistemas que recorrem a formas arredondadas e repetições concêntricas; padrões, traçados, sobreposições e movimentos com efeitos semelhantes aos da op art ou que citam a arte concreta, além de arabescos e degradês como se feitos em estêncil ou com aspecto inacabado.

Obras

Sexto mundialito de maiô artístico, 2017
técnica mista

Panmela Castro

Rio de Janeiro, 1981

O espaço de visibilidade de Panmela Castro se dá no embate contra o machismo,  o patriarcado e a normatização binária dos corpos, e a estética dos contos de fada, do mundo “cor-de-rosa”. Integrante e articuladora de redes de feminismo por meio da arte urbana, como a NAMI, Castro já grafitou muros no Rio de Janeiro, Cochabamba, Oslo, Miami, Israel, Nova York, Berlim e Paris. Suas composições recorrem a palavras de ordem e a figuras femininas, com detalhes de faces iluminadas por pontos de luz que por vezes se sobrepõem a elas, criando tonalidades fortes e avermelhadas.

Obras

Femme Maison [Dona de casa], 2017
instalação
COLABORAÇÃO Elizabeth da Silva e Artha Baptista
PARTICIPAÇÃO Clara Averbuck
#femmemaison #frestas2017