Sobre a permanência:

arte fora dos grandes centros

A elaboração de um programa de exposições em rede e de forma contínua, com variedade de conteúdos, dimensões e formatos, é parte do trabalho desenvolvido pelo Sesc em São Paulo. Esse processo é realizado em meio a um volumoso universo de possibilidades e intenções, sendo derivado das diferentes realidades de municípios e regiões do estado, das complexidades do campo das artes e da presença das mais diversas manifestações culturais contemporâneas.

Historicamente, o ambiente artístico paulista é notadamente heterogêneo, se levarmos em conta as singularidades entre a cena paulistana e das cidades do interior. As diferenças abrangem aspectos como o ensino da arte, a formação de artistas, os espaços voltados à exibição, circulação e fruição de objetos artísticos, bem como as pesquisas e críticas sobre arte, cuja presença surge de forma mais efetiva na capital.

Como em grande parte das cidades brasileiras, são poucas as iniciativas e instituições museológicas e culturais que conseguem desenvolver um programa regular e sistematizado de exposições artísticas e atividades formativas no interior do estado. Quando existentes, muitas delas carecem de estrutura física, equipe, orçamento e incentivos para pesquisas constantes a respeito das artes. São comuns esforços individuais que arduamente buscam transformar-se em políticas permanentes, sejam elas públicas ou privadas. O mesmo ocorre com as instituições de ensino de artes, tanto aquelas voltadas para a iniciação artística quanto aquelas dedicadas à formação de artistas, professores, historiadores e críticos de arte. O mercado da arte, formado em particular pelas galerias, feiras e leilões, também está concentrado na capital, assim como as grandes coleções e acervos – salvo exceções pontuais localizadas em polos econômicos e culturais do interior. O mecenato, tanto público quanto privado, também se diferencia em relação ao volume de ocorrências e investimento.

Já a arte denominada popular, que pode ser identificada de maneira resumida como aquela que surge nas bordas e margens dos circuitos nacional e internacional da arte contemporânea, estabelecidos a partir de grandes centros financeiros e universitários, tem alguns espaços demarcados em municípios do interior do Estado. Estes podem ser em geral atribuídos a grupos de artistas e agentes culturais organizados, que propõem circuitos alternativos para exibição, circulação e comercialização de seus trabalhos, cujas propostas estéticas nem sempre são vinculadas a determinados códigos da tradição, da historiografia, da crítica e do ensino de arte predominantes.

Na atualidade, não são tantos os historiadores e críticos de arte que se dedicam a estudar e observar a diversidade e as particularidades da produção artística advinda do interior de São Paulo, marcada por inúmeras nuances. Com isso, um conjunto de artistas e públicos interessados em arte segue apartado dos espaços dedicados à circulação da produção artística e de interlocutores dedicados à formação de artistas, a pesquisas e ao debate artístico contemporâneo.

É nesse cenário plurifacetado que surge Frestas: Trienal de Artes, um projeto integralmente dedicado às artes e à ação educativa na cidade de Sorocaba. Como em outras propostas periódicas de exposição, seu surgimento decorre do desejo de estabelecer um ritmo que denote continuidade ao projeto, lançando uma mensagem de resistência e ânimo para aqueles que acreditam na arte como parte essencial da vida, apta tanto a promover propostas e análises críticas do mundo quanto a proporcionar momentos de encanto, ludicidade e transcendência.

Em sua primeira edição, realizada em 2014-2015, o projeto contou com exposições, performances, espetáculos e uma série de ações educativas realizadas no Sesc Sorocaba, espaços da prefeitura local e escolas. Ofereceu formação para professores do ensino fundamental e estabeleceu parcerias com cursos universitários, a fim de estabelecer momentos de trocas e construções de saberes que poderiam permanecer e ser multiplicados por aqueles que participaram desses processos. Com um grupo de artistas da região, foi realizado o Ateliê de pesquisa em poéticas visuais, organizado em encontros nos quais diversas questões relacionadas ao fazer artístico entravam em pauta, passando por conteúdos teóricos e práticos advindos das experiências dos envolvidos.

A segunda edição de Frestas pode ser entendida como indício da continuidade de um projeto concebido para ser duradouro, em contraponto à referida inconstância das políticas para as artes e para a cultura vivida de modo amplo no cenário nacional. Intitulada “Entre pós-verdades e acontecimentos”, a edição de 2017 concentra uma série de conteúdos e práticas presentes no programa de exposições realizado cotidianamente pelo Sesc, mas rearticulados em um projeto de referência para as discussões advindas da produção artística contemporânea deslocadas do epicentro da megalópole paulistana. Frestas busca consolidar-se como plataforma permeável às relações e diálogos advindos das dinâmicas sociais deste território, valorizando o papel das instituições culturais em favorecer trocas fundamentais entre artistas, suas obras e as experiências de variados públicos. Trata-se assim de uma celebração poética, provida de caráter crítico, em um período de reais questionamentos sobre o lugar das artes e seus profissionais na contemporaneidade.

Equipe Frestas
Sesc São Paulo