Marcius Galan

Indianapolis, 1972. Vive em São Paulo

O desenho e a geometria permitem a Marcius Galan refletir sobre a conformação burocrática dos espaços e enunciar possibilidades subversivas de seu uso. O artista costuma ser conciso no uso de materiais, cujas funções originais contribuem para determinar forma e conteúdo das obras. Assunto e execução têm sintonia fina. De tão preciso, o resultado de seu pensamento plástico muitas vezes aponta para falhas de mecanismos aparentemente perfeitos.

Para encontrar o que há por trás de uma primeira camada ilusória de ordem, o artista convoca um espectador engajado, que desbrave com atenção outros ângulos, desconfiando, dessa maneira, daquilo que se reconhece como funcional e cotidiano. O gesto inicial deste projeto para Frestas foi manter visíveis algumas características arquitetônicas deste local de exibição da obra, o estacionamento do Sesc Sorocaba.

Obras

Rupestre, 2017
pintura automotiva, objetos encontrados, telefone com som
PARTICIPAÇÃO Carlos Issa

Francesca Woodman

Denver, 1958 – Nova York, 1981

Modelo para a maioria de suas imagens, Francesca Woodman trabalhou sobretudo o autorretrato. Em suas fotografias, casas decadentes costumam ser o cenário onde mulheres jovens se apresentam em situações ambivalentes entre a força e a fragilidade. Às vezes suas figuras se encontram em movimento e, por isso, são capturadas como vultos pela longa exposição da câmera fotográfica, seja em ruínas de arquiteturas hostis a esses corpos ou na natureza.

O suicídio aos 22 anos induz uma camada de significado que dificilmente se descola da crítica produzida sobre seu trabalho. Deixou uma obra considerável, com cerca de oitocentas fotografias, a maior parte produzida quando era ainda estudante. Atualmente, seus pais cuidam dessa coleção, que carrega o drama mas também o sarcasmo de uma artista desafiadora, que tinha domínio pleno de suas proposições. Embora muito jovem, conseguiu formular um estilo próprio e experimental, que cita o surrealismo e uma produção fotográfica do século XIX que forjava espíritos. A prática de Woodman ainda tangencia a performance e as questões de gênero e identidade, muito presentes na cena artística estadunidense dos anos 1970.

Obras

Sem título, da série Eel (Veneza,
Itália), 1978
impressão de prata coloidal
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

Sem título, 1979
impressão de prata coloidal
Cortesia Luciana Brito

From Polka Dots [De bolinhas
(Providence, Rhode Island)], 1976
impressão de prata coloidal
Coleção Particular

Sem título (Roma, Itália), 1977-1978
impressão de prata coloidal
Coleção Particular

Sem título (Andover, Massachusetts),
1972-1974
impressão de prata coloidal
Coleção Particular

Sem título (Boulder, Colorado),
1972-1975
impressão de prata coloidal
Cortesia Mendes Wood DM São Paulo

Sem título (Providence, Rhode
Island), 1976
impressão de prata coloidal
Cortesia Mendes Wood DM São Paulo

Sem título (New York), 1979
impressão de prata coloidal
Cortesia Mendes Wood DM São Paulo

Sem título (New York), 1979-1980
impressão de prata coloidal
Coleção Dulce e João Carlos de
Figueiredo Ferraz

Yvon Chabrowski

Berlim Oriental. Vive entre Berlim e Leipzig

Uma entrevista com H.R.H. a princesa de Gales

A última entrevista oficial com H.R.H., a Princesa de Gales, é transportada para um cenário invisível, no qual uma atriz está exposta em um espaço limpo, vazio, clínico. Ela imita os gestos e as expressões faciais da princesa de Gales – mas todos os momentos do contexto e da atmosfera da situação concreta desaparecem. Desta forma, apresenta-se uma maneira incomum de ver a pessoa e sua exposição pública. Esta maneira de ver expõe o formato da entrevista como um espetáculo de mídia. A conversa encenada torna-se visível e legível como uma máquina cultural, demonstrando o emaranhamento de cada pessoa no campo da publicidade e da política.

Obras

An Interview with H.R.H. The Princess of Wales
[Uma entrevista com H.R.H. a Princesa de Gales], 2008
videoinstalação, 63’
ATRIZ Jana Horst
CÂMERA Jan Mammey

Teresa Margolles

Cualicán, 1963. Vive na Cidade do México

Teresa Margolles dedica sua produção a investigar a violência que assola o México, principalmente devido ao narcotráfico. Longe da abordagem que associa a morte à alegria na cultura visual mexicana, o trabalho da artista reúne documentos e incita um debate público sobre esse problema que, de tão persistente, tornou-se sistêmico no país.
A artista trabalhou para o Serviço Médico Forense entre 1993 e 1998, e a função de legista gerou subsídios para uma pesquisa sobre a ambiência dos necrotérios, os estágios de desintegração do corpo e a burocracia legal que se segue às mortes por assassinato, que foi investida, ao longo dos anos, em performances, vídeos, instalações e objetos escultóricos nos quais o espectador, muitas vezes por meio de contato físico direto, vivencia uma associação incômoda entre estetização e violência.
Na Bienal de Veneza de 2009, Margolles apresentou a instalação Bandera [Bandeira], composta de um tecido entintado com sangue coletado nas ruas e hasteado ao lado da bandeira mexicana.
Em Ajuste de cuentas [Ajuste de contas] (2007), confeccionou joias com ouro 18 quilates e, em vez de diamantes ou outras pedras preciosas, utilizou estilhaços de vidro extraídos de corpos assassinados em confrontos e tiroteios entre policiais, militares e narcotraficantes.

Obras

Ajuste de cuentas [Ajuste de contas], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 2 [Ajuste de contas 2], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 9 [Ajuste de contas 9], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 15 [Ajuste de contas 15], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 17 [Ajuste de contas 17], 2007
vidro e ouro

Sergio Zevallos

Lima, 1962. Vive em Berlim

Integrante do Grupo Chaclacayo (1982-1994), junto com Helmut Psotta e Raúl Avellaneda, Sergio Zevallos começou a trabalhar como artista em um contexto marcado pelo terrorismo de Estado e pelo conflito armado com grupos paramilitares no Peru. O coletivo é contemporâneo do Movimiento Subterráneo, fenômeno contracultural e anarquista que reuniu músicos, poetas e arquitetos em ações artísticas radicais, à margem do sistema oficial de artes na Lima dos anos 1980.
Nas proposições do Chaclacayo, o corpo – travestido e performado em atitudes que teatralizavam o pornográfico e a liturgia católica – operava uma poderosa crítica à violência física e simbólica que o colonialismo, a religião e o militarismo exerciam sobre os sujeitos. Esse corpo não colonial, torturado, mutilado, queimado ou desaparecido, era diariamente exibido, naturalizado e espetacularizado nos meios de comunicação.
Em Callejón oscuro [Beco escuro] (2013), Cuaderno de matemática [Caderno de matemática] e HK(2014), o artista, já não mais junto ao grupo, constrói narrativas em que a figura humana se relaciona com instrumentos de controle, patologização e extermínio dos corpos que não são brancos nem heteronormativos. Os elementos desses discursos de padronização são apropriados com base em textos, dados e gráficos extraídos de livros de anatomia, fisiologia e higiene, medicina legal e códigos civil e penal do Peru.

Obras

Callejón oscuro [Beco escuro], 2013
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

HKG, 2014
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

Cuaderno de matemática
[Caderno de matemática], 2014
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

Guerrilla Girls

1985, vivem nos Estados Unidos

Em 1985, em diálogo com os movimentos feministas e dos direitos civis estadunidenses, um grupo de mulheres artistas e ativistas começou a desenvolver ações cujo intuito era expor o sexismo e o racismo no mundo da arte. Anônimas, usam máscaras de gorilas e adotam pseudônimos para evidenciar o apagamento das mulheres na história e na arte contemporânea. Usando dados estatísticos e estratégias de circulação que combinam a discursividade das vanguardas modernas e da arte conceitual com a didática das militâncias políticas, o coletivo produz campanhas bem humoradas e persuasivas.
Depois de décadas atuando fora do circuito e do mercado de arte, as Guerrilla Girls começaram a levar suas ações para o interior dos grandes museus. Agora, seus cartazes fazem parte do acervo de importantes instituições. Essa inserção não esmaeceu o discurso crítico do coletivo. Pelo contrário, ampliou seu alcance e o vinculou a uma rede de interlocuções, como a que sustenta o projeto Complaints Department [Departamento de reclamações], montado na Tate Modern em 2016 e, agora, nesta segunda edição da Trienal, com uma versão também na internet, em departamentodereclamacoes.com

Obras

The Guerrilla Girls Complaints Department
[Departamento de reclamações das Guerrilla Girs], 2017
instalação
AGRADECIMENTO Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Do Women Have to be Naked to Get Into the Met. Museum?
[As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museum?],
1989-2017
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Free The Women Artists [Libertem as mulheres artistas], 2006-2017
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Disturbing the Peace [Perturbando a paz], 2009-2017
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Dear Billionaire Collector [Querido colecionador bilionário], 2015
banner

Reynier Leyva Novo

Havana, 1983

Em esculturas, instalações e vídeos, Reynier Leyva Novo problematiza a história de Cuba, sem no entanto esquecer suas relações com uma geopolítica mundial. Na produção audiovisual, como na trilogia El país que soñó ser continente [O país que sonhou ser continente] , o artista já investigou a perspectiva de outros contextos sobre seu país natal. Desta maneira, reuniu indícios para pensar um Sul global – mais do que uma região geopolítica, um conceito em disputa, no que concerne a identidades, territórios e memórias.

Na Trienal, Leyva Novo apresenta duas instalações, que, apesar de anteriores, ganham contornos específicos. Em Arqueologia de una sonrisa [Arqueologia de um sorriso] (2015/2017) por volta de 2,5 mil escovas foram coletadas por meio de trocas com a população de Sorocaba: ao entregarem as escovas usadas ao artista, as pessoas receberam uma nova. Disposta sobre a parede, a coleção angariada permite ver variações de cor, tamanho e desgaste. Já El beso de cristal [O beijo de cristal] (2015) consiste em setenta taças com gravações a laser dos retratos, nomes e tempos de mandato dos 24 presidentes cubanos e 44 presidentes estadunidenses (antes da eleição de Donald Trump, o 45º, eleito em 2016). Completam o conjunto duas taças limpas, sem gravações, na época à espera do nome dos futuros líderes desses países (os EUA elegeram Donald Trump). Se em Arqueologia… o artista evoca as subjetividades em nome de uma memória coletiva, em El beso… remonta aos símbolos de poder em Cuba e nos Estados Unidos, também em referência a uma representação coletiva de nações que têm entre si uma história de disputas ideológicas.

Obras

The Crystal Kiss [O beijo de cristal], 2015
globos de vidros gravados a laser

Archeology of a smile [Arquelogia de um sorriso], 2017
escovas de dente, retratos e informações pessoais
FOTOGRAFIAS Camila Fontenele
AGRADECIMENTO Pastoral do Menor de Sorocaba
Centro Educacional Comunitário Habiteto

Michael Wesely

Munique, 1963. Vive em Berlim

Formado ainda nos tempos da Guerra Fria, o fotógrafo viveu processos drásticos de transformação espacial, social e cultural de seu país. Com isso, desenvolveu uma acurada percepção de tempo e de processos de recuperação histórica. Munido de câmeras pinhole, Michael Wesely passou a experimentar a superexposição de filmes em processos fotográficos analógicos de longa duração. Capturou, dessa maneira, imagens que acumulam agentes e disputas vivenciados na contemporaneidade. Entre 1997 e 1999, o artista documentou a reconstrução da Potsdamer Platz, em Berlim, revelando o início de um processo de especulação até hoje vigente sobre aquela paisagem.

Familiarizado com a realidade política brasileira, Wesely apresenta em Frestas quatro fotografias de um conjunto maior, feito em 17 de abril de 2016 – dia em que a Câmara dos Deputados votou pela admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, eleita em 2014. Em suporte digital, mas ainda fazendo uso da técnica de superexposição, o artista registrou os movimentos populares em dois espaços públicos tradicionais de São Paulo. No vale do Anhangabaú, reuniram-se os que eram contra o afastamento de Dilma, enquanto na avenida Paulista havia um grupo a favor da condenação que por fim interrompeu o mandato presidencial. As fotografias remetem à cisão democrática e à crise política vivenciadas no Brasil de hoje. Entre sobreposições e manchas de movimentos desordenados, configura-se um momento histórico que tardará por ser assimilado.

Hello

Vale do Anhangabaú, 2016
(18.12 – 18.24 Uhr, 17.4.2016)
c-print

Vale do Anhangabaú, 2016
(17.04 – 18.12 Uhr, 17.4.2016)
c-print

Avenida Paulista, 2016
(19.37 – 19.57 Uhr, 17.4.2016)
c-print

Avenida Paulista, 2016
(20.17 – 20.34 Uhr, 17.4.2016)
c-print

Marko Lulić

Viena, 1972

Tendo em mente o contexto histórico europeu desde o pós-guerra, marcado pela consolidação do modernismo em suas mais variadas formas de representação, Marko Lulic produz vídeos em que registra ações performáticas em lugares onde existem esculturas e arquiteturas monumentais. Esses elementos evocam a diversidade ideológica e estética das formas progressistas do moderno, presentes de maneiras distintas tanto em países capitalistas quanto socialistas.

Seus filmes, como Kosmaj Monument [Monumento Kosmaj] (2015) e Proposal for a Workers’ Monument [Proposta de um monumento para os trabalhadores] (2014), promovem, cada um a sua maneira, interseções entre monumento e dança, uma lembrança estática e a tentativa de entendê-la com o corpo e pelo movimento. Filmadas, respectivamente, na montanha Kosmaj, na Sérvia (antiga Iugoslávia), e em Berna, na Suíça, as obras demonstram como bailarinos, ora improvisando ora executando coreografias, podem ativar espaços e trazer à tona suas particularidades históricas, arquitetônicas e sociais. Nestes e nos demais filmes exibidos no Frestas, realizados em outras locações, o corpo dialoga com a arquitetura para alcançar possíveis respostas ao que se consolida como lembrado ou esquecido na memória coletiva.

Obras

Model of Relations (The Circle)
[Modelos de relação (o círculo)], 2015
vídeo, 11’
CORTESIA da Gabriele Senn Gallery e do artista.
PRODUZIDO em colaboração com Kuehn Malvezzi e seu
projeto Models of the House of One, Bienal de Arquitetura de
Chicago, 2015

Kosmaj Monument [Monumento
Kosmaj], 2015
vídeo, 9’48”
CORTESIA da Gabriele Senn Gallery e
do artista

Proposal for a Workers’ Monument
[Proposta de um monumento
para os trabalhadores], 2014
vídeo, 10’25”
CORTESIA da A da Gabriele Senn Gallery e do artista

Space-Girl Dance [Dança da
garota-espacial], 2009
vídeo, 3’
Coleção da Aksenov Family Foundation
CORTESIA da Gabriele Senn Gallery e
do artista

Jasenovac, 2010
vídeo, 9’
CORTESIA da Gabriele Senn Gallery e do artista

MARKO LULIĆ
Model of Relations (The Circle)
[Modelos de relação (o círculo)], 2015
vídeo, 11’
CORTESIA da Gabriele Senn Gallery e do artista.
PRODUZIDO em colaboração com Kuehn Malvezzi
e seu projeto Models of the House of One, Bienal
de Arquitetura de Chicago, 2015