Daniel Lie

São Paulo, 1988

Plantas vivas e em decomposição adornam a estrutura da passarela que conecta os dois edifícios do Sesc Sorocaba.
Ao mesmo tempo que celebra as passagens, Passa logo também é um comando bem-humorado para os visitantes: seguir o curso de tempo proposto pela arquitetura sem delongar-se demais no espaço.

A obra confronta o ritmo precipitado da vida contemporânea com os ciclos dilatados da natureza. O artista costuma usar matéria orgânica (plantas, fruta e terra) para construir estruturas que permitem observar a impermanência, como em uma cerimônia lenta e pública rumo a um fim inevitável. Durante a mostra, a celebração se estenderá aos ritos de passagem, de um edifício ao outro, de uma etapa à subsequente, da vida à morte.

Obras

Passa logo, 2017
técnica mista
TÉCNICAS VERTICAIS Arte Técnica Solução em Instalações de Arte
TÉCNICO RESPONSÁVEL Haroldo Alves

Bruno Baptistelli

São Paulo,1985. Vive entre São Paulo e Budapeste

Interessado na arquitetura do Sesc Sorocaba, Bruno Baptistelli investigou as rampas de acesso, corrimãos e pequenos degraus do estacionamento. Considerando sua especificidade, construiu esculturas com materiais e procedimentos que podem se confundir com partes do edifício.

Em sua trajetória, o artista costuma ocupar e interferir em espaços, muitas vezes de maneira sutil e imperceptível. Na série Reorganizações urbanas (2008-2010), passou cerca de três anos compondo geometrias a partir de detritos e objetos entulhados em vias públicas. Havia, com isso, o desejo de tornar visível uma intenção artística no dia-a-dia da cidade.Já na série Narrativas cotidianas, em andamento desde 2011, Baptistelli registra em fotografias sua deriva nas ruas e as curiosidades formais que costumam passar despercebidas pelos transeuntes, como figuras e composições que se repetem aleatoriamente.

Obras

Sem título, da série Tolos, 2017
concreto e metal
PRODUÇÃO Ricardo Donadio (fibra Arte & Produções)

Ricardo Càstro

São Roque, 1972. Vive entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Abravanar é um verbo inventado para designar modos de liberar energia vital em interação com elementos de uma memória cultural, hora abstratos, hora claramente referendados nas festas populares, nos cultos religiosos e na mídia de massa. Quem abravana pode expandir-se a partir da experiência sensível de cores e luzes, da música dita como mantra, do corpo que recebe, transpira e conecta. Ricardo Càstro abravana desde o início dos anos 2000 e isso lhe rendeu uma trajetória de manifestações tanto artísticas quanto espirituais, tanto suas, às vezes íntimas, quanto de outros, parceiros e públicos, aos quais oferece beleza em busca empatia e troca.

Wava dispõe de três portais: o Canto platina, o Naco da escada e a Mesa de centro. Em prata, dourado e cristal, respectivamente, eles propiciam rituais de meditação. Uma vez ativados em sua totalidade (assim pede o artista), aguçam a percepção de uma onda que, embora invisível, possui alta frequência e capacidade de alastrar-se e intensificar-se. Dali para a cidade de Sorocaba, na qual passou um mês em residência, ou para a internet, onde amplificou essa presença e possíveis interlocuções em redes sociais como o Google Maps e o Instagram, Ricardo foi espalhando pistas, criando vias de acesso na forma de pequenos convites. Das geometrias à deriva cigana, passando por tarô na praça, performance diante do monumento oficial, caras e bocas, tudo é frugal e exuberante, mas é bom lembrar: a exuberância é só um pretexto abravanista.

Obras

Wava, 2017
técnica mista
PARTICIPAÇÃO André Bragança, Gabriel Junqueira e Marcelo Fagge

WAVA é uma onda invisível, que pode emanar de três elementos (portais) aqui dispostos em triangulação. Neste espaço, qualquer pessoa pode ativar a onda. A sequência de interação com os elementos deve ser definida por cada participante, assim como o ritmo da vivência. Se sugere entrar sem sapato. As possibilidades de interação sugeridas são:

Canto Platina _RECEBER
Deitar no canto e permanecer desta forma até entrar na frequência do raio platina. Aqui o tom é do descanso, da meditação, da atenção na respiração, da internalização da energia – sintonização.

Naco de escada _GRITAR
Subir no segundo degrau do volume, concentrar o pensamento em algo com que queira romper e daí gritar muito alto (o mais forte possível). Aqui o tom é de radicalização para movimentar energia pelo impulso, da possibilidade de trazer questões internalizadas para o campo externo – liberação.

Mesa de Centro _DIALOGAR
Conversar com o bola de cristal de forma mental, sem tocá-la. Ver a sua sorte, visualização. Aqui o tom é do entendimento, da reformulação e da possibilidade de redirecionamento das idéias – redesenho.

Yvon Chabrowski

Berlim Oriental. Vive entre Berlim e Leipzig

Uma entrevista com H.R.H. a princesa de Gales

A última entrevista oficial com H.R.H., a Princesa de Gales, é transportada para um cenário invisível, no qual uma atriz está exposta em um espaço limpo, vazio, clínico. Ela imita os gestos e as expressões faciais da princesa de Gales – mas todos os momentos do contexto e da atmosfera da situação concreta desaparecem. Desta forma, apresenta-se uma maneira incomum de ver a pessoa e sua exposição pública. Esta maneira de ver expõe o formato da entrevista como um espetáculo de mídia. A conversa encenada torna-se visível e legível como uma máquina cultural, demonstrando o emaranhamento de cada pessoa no campo da publicidade e da política.

Obras

An Interview with H.R.H. The Princess of Wales
[Uma entrevista com H.R.H. a Princesa de Gales], 2008
videoinstalação, 63’
ATRIZ Jana Horst
CÂMERA Jan Mammey

Simone Cupello

Niterói, 1962. Vive no Rio de Janeiro

O movimento de justaposição, fricção e intersecção de linguagens artísticas é comum à matriz de pensamento que norteia os trabalhos de Simone Cupello. Pesquisadora de imagens pessoais descartadas, a artista vem desenvolvendo instalações e formas orgânicas que se utilizam desses arquivos como matéria, destituindo sua função original de memória.

É o caso das obras Sorrisos em caixa e Beatriz vai à Itália,  pedras esculpidas a partir de fotografias prensadas. Como as rochas, que são acúmulos de materiais orgânicos que se sedimentam em uma nova forma, nas pedras de Cupello o conteúdo perde-se frente à concentração, ao adensamento e à abundância. Na Trienal, a artista também apresenta Olhares privados, instalação formada por centenas de fotografias justapostas e sustentadas por varais de cabo de aço, formando um volume flutuante no espaço expositivo.

[UC]

Obras

Olhares privados, da série Varais, 2017
fotografias apropriadas, cabos de aço e grampos de metal

Sorrisos em caixa (Yeda, Franklin e seus amigos), 2017
fotografias apropriadas esculpidas

Beatriz vai à Itália, 2015
fotografias apropriadas esculpidas
PARTICIPAÇÃO: Fotos Contam Fatos (Galeria Vermelho) e Duas Naturezas (Central Galeria)

Rafael Alonso

Niterói, 1983. Vive no Rio de Janeiro

Banquinhos de madeira usados; cadeiras desenhadas por um designer conhecido; placas de acrílico; camisas de malha; Eucatex, MDF ou a madeira que restou de um móvel usado; fita adesiva; aglomerado, compensado: essas são as “telas” ou superfícies nas quais Rafael Alonso realiza suas pinturas. São objetos de uso comum que agregam valores como simplicidade e precariedade ao trabalho, tensionando a “nobreza” das paredes de museus, galerias e feiras de arte a que se destinam, profanando uma certa sacralidade e fetichismo envolvidos nas formas de exibir arte.

Em cores primárias ou secundárias, preto e branco ou em neon e escuros retrô futuristas, observam-se nas pinturas de Alonso sistemas que recorrem a formas arredondadas e repetições concêntricas; padrões, traçados, sobreposições e movimentos com efeitos semelhantes aos da op art ou que citam a arte concreta, além de arabescos e degradês como se feitos em estêncil ou com aspecto inacabado.

Obras

Sexto mundialito de maiô artístico, 2017
técnica mista

Matheus Rocha Pitta

Tiradentes, 1980. Vive no Rio de Janeiro

Em 1º de abril de 2016, durante uma residência em Berlim, Matheus Rocha Pitta instalou um calendário na vitrine de uma rua movimentada no bairro de Kreuzberg. Dividiu um mural de grandes proporções, criando um grid com 365 quadrantes, cada qual correspondente a um dia do ano. Em cada um desses espaços, colou uma imagem retratando as inúmeras manifestações políticas que vêm acontecendo ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Todas foram extraídas de jornais, e a data indicada era sempre 1º de abril, o famoso Dia da Mentira ou, naquela circunstância, o momento de inauguração da obra – um hoje urgente e persistente. Para Frestas foi feita uma segunda versão de O dia da mentira, com fotografias publicadas na imprensa brasileira em 2017.

Jornais, moedas e mercadorias foram experimentados nos anos 1970 por Cildo Meireles como “circuitos ideológicos”, munidos não só de um conteúdo mas também de uma lógica de dominação por seus financiadores ou maiores detentores. Ao longo de sua carreira, Rocha Pitta tem refletido sobre tais circuitos e proposto usos críticos deles. Por meio de gestos simbólicos – como comprar quilos de escombros descartados pela gentrificação do Centro do Rio de Janeiro ou convidar pessoas para um banquete no museu subtraindo qualquer instrumento de servir (mesa, talheres) –, o artista pretende chamar a atenção do público sobre códigos, valores e projetos de poder muitas vezes implícitos nos mecanismos de troca.

Obras

O ano da mentira, 2017
jornal e papel japonês

Lina Kim

São Paulo, 1965. Vive em Berlim

O apelo de situações aparentemente sem apelo é um mote de trabalho para Lina Kim. Seu olhar parece encontrar interesse não em lugares nem objetos específicos, mas na brecha sutil, que a seu modo revela detalhes. Essas brechas têm uma visualidade delicada, exigem o tempo alargado, arrastado, demorado, esgarçado de uma escuta atenta, como essa enumeração disfuncional de verbos.

Em sua vasta pesquisa sobre a arquitetura de Brasília, por exemplo, que resulta em um  arquivo ou em fotos de lugares vazios e em aparente suspensão, a artista deixou  ver também o que não se entrega aos olhos. A série de desenhos apresentados em Frestas surgiu da observação da anatomia dos corpos de cisnes que vivem nos canais de Berlim, na Alemanha. Em um exercício extenso e meticuloso, Lina Kim recorre a uma linha magra, que, como uma partitura, carrega som e, por que não, escuta. As formas orgânicas dos corpos das aves são conjugadas a vetores geométricos, de raízes concretas. Uma vez levadas a interagir, essas formas supostamente antagônicas alcançam um equilíbrio construtivo.

Obras

Swanswanswan Series – Livelihood [Série Swanswanswan – meios de sobreviviência] , 2017
colagem, grafite, lápis de cor e nanquim sobre papel

Gustavo Speridião

Rio de Janeiro, 1978

“Da ideia a chama já consome/A crosta bruta que a soterra.” Essas duas frases compõem a primeira estrofe do hino “A internacional”. Durante a segunda edição de Frestas, pode-se ouvi-las soar do alto do poste próximo ao Terminal de Ônibus Santo Antônio, em Sorocaba. Essa intervenção revela o ensejo político presente nas ações provocadas por Gustavo Speridião, artista carioca que usa diferentes meios, como desenhos, colagens, pinturas, instalações, esculturas, fotografias e vídeos. Sua prática orienta-se para o questionamento do próprio fazer artístico no circuito profissional, elencando as relações do trabalho de arte como um fato político, que desconfia do lugar privilegiado da obra como objeto muitas vezes dotado de alto valor especulativo.

A pintura de Speridião se constrói com uma paleta de cores inscritas historicamente na herança do construtivismo russo, mas que não deve ser tomada apenas como referência a visualidades passadas. Nota-se que as telas costumam carregar o  frescor da tinta, que, mesmo seca, ainda escorre. Esse frescor faz as obras assemelharem-se a muros e paredes recém-pichados nas ruelas ou no alto dos prédios mais imponentes na cidade. Fruto da verve e da revolta juvenil, a desobediência do artista aparece de forma contundente em séries como Cartazes de agitação e Cartazes ginasiais. Os traços revelam insubordinação à história da arte e às escolas como instituições às quais Speridião responde por meio de visualidades fortes e precárias, comuns aos cartazes de protesto.

Obras

A Rússia, 2017
técnica mista

Animal, 2017
técnica mista

Animal, 2017
técnica mista

Sem título, 2017
técnica mista