Wanda Pimentel

Rio de Janeiro, 1973

Por muito tempo, os críticos de arte brasileira que analisaram a obra de Wanda Pimentel situaram-na para além do experimentalismo e das contestações políticas que caracterizaram parte da produção conceitual do país dos anos 1960 e 1970. Destacando especificidades, essas leituras ora relacionavam a pesquisa da artista com o construtivismo brasileiro ora com a nova figuração e a arte pop estadunidense. Mais recentemente, outras chaves de leitura vêm sendo propostas: o silêncio lírico, o mistério, o imobilismo, a figuração ambivalente – tão enfatizados como característica poética e estilística de Pimentel– foram repensados e reposicionados no contexto da arte política brasileira e do debate feminista.
Segundo o crítico Fernando Cocchiarale, a série Envolvimento marcou não apenas o início e os desdobramentos da trajetória de Pimentel, mas também sua identidade poética. O recorte exibido evidencia tanto o repertório particular da artista como seus diálogos recorrentes com movimentos artísticos locais e estrangeiros.

Obras

Envolvimento, 1973
acrílica sobre tela
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 1968
vinílica sobre tela
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, sem data
vinílica sobre eucatex
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 1969
vinílica sobre duratex
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 1978
acrílica sobre madeira
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 1969
vinílica sobre tela
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 1970
vinílica sobre madera
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, da série Bueiros, 1970
vinil sobre madera
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Sem título, 2013
Coleção João Sattamini, comodato no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Teresa Margolles

Cualicán, 1963. Vive na Cidade do México

Teresa Margolles dedica sua produção a investigar a violência que assola o México, principalmente devido ao narcotráfico. Longe da abordagem que associa a morte à alegria na cultura visual mexicana, o trabalho da artista reúne documentos e incita um debate público sobre esse problema que, de tão persistente, tornou-se sistêmico no país.
A artista trabalhou para o Serviço Médico Forense entre 1993 e 1998, e a função de legista gerou subsídios para uma pesquisa sobre a ambiência dos necrotérios, os estágios de desintegração do corpo e a burocracia legal que se segue às mortes por assassinato, que foi investida, ao longo dos anos, em performances, vídeos, instalações e objetos escultóricos nos quais o espectador, muitas vezes por meio de contato físico direto, vivencia uma associação incômoda entre estetização e violência.
Na Bienal de Veneza de 2009, Margolles apresentou a instalação Bandera [Bandeira], composta de um tecido entintado com sangue coletado nas ruas e hasteado ao lado da bandeira mexicana.
Em Ajuste de cuentas [Ajuste de contas] (2007), confeccionou joias com ouro 18 quilates e, em vez de diamantes ou outras pedras preciosas, utilizou estilhaços de vidro extraídos de corpos assassinados em confrontos e tiroteios entre policiais, militares e narcotraficantes.

Obras

Ajuste de cuentas [Ajuste de contas], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 2 [Ajuste de contas 2], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 9 [Ajuste de contas 9], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 15 [Ajuste de contas 15], 2007
vidro e ouro

Ajuste de cuentas 17 [Ajuste de contas 17], 2007
vidro e ouro

Sergio Zevallos

Lima, 1962. Vive em Berlim

Integrante do Grupo Chaclacayo (1982-1994), junto com Helmut Psotta e Raúl Avellaneda, Sergio Zevallos começou a trabalhar como artista em um contexto marcado pelo terrorismo de Estado e pelo conflito armado com grupos paramilitares no Peru. O coletivo é contemporâneo do Movimiento Subterráneo, fenômeno contracultural e anarquista que reuniu músicos, poetas e arquitetos em ações artísticas radicais, à margem do sistema oficial de artes na Lima dos anos 1980.
Nas proposições do Chaclacayo, o corpo – travestido e performado em atitudes que teatralizavam o pornográfico e a liturgia católica – operava uma poderosa crítica à violência física e simbólica que o colonialismo, a religião e o militarismo exerciam sobre os sujeitos. Esse corpo não colonial, torturado, mutilado, queimado ou desaparecido, era diariamente exibido, naturalizado e espetacularizado nos meios de comunicação.
Em Callejón oscuro [Beco escuro] (2013), Cuaderno de matemática [Caderno de matemática] e HK(2014), o artista, já não mais junto ao grupo, constrói narrativas em que a figura humana se relaciona com instrumentos de controle, patologização e extermínio dos corpos que não são brancos nem heteronormativos. Os elementos desses discursos de padronização são apropriados com base em textos, dados e gráficos extraídos de livros de anatomia, fisiologia e higiene, medicina legal e códigos civil e penal do Peru.

Obras

Callejón oscuro [Beco escuro], 2013
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

HKG, 2014
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

Cuaderno de matemática
[Caderno de matemática], 2014
grafite e decalque sobre papel
CORTESIA do artista e da galeria 80m2
Livia Benavides

Guerrilla Girls

1985, vivem nos Estados Unidos

Em 1985, em diálogo com os movimentos feministas e dos direitos civis estadunidenses, um grupo de mulheres artistas e ativistas começou a desenvolver ações cujo intuito era expor o sexismo e o racismo no mundo da arte. Anônimas, usam máscaras de gorilas e adotam pseudônimos para evidenciar o apagamento das mulheres na história e na arte contemporânea. Usando dados estatísticos e estratégias de circulação que combinam a discursividade das vanguardas modernas e da arte conceitual com a didática das militâncias políticas, o coletivo produz campanhas bem humoradas e persuasivas.
Depois de décadas atuando fora do circuito e do mercado de arte, as Guerrilla Girls começaram a levar suas ações para o interior dos grandes museus. Agora, seus cartazes fazem parte do acervo de importantes instituições. Essa inserção não esmaeceu o discurso crítico do coletivo. Pelo contrário, ampliou seu alcance e o vinculou a uma rede de interlocuções, como a que sustenta o projeto Complaints Department [Departamento de reclamações], montado na Tate Modern em 2016 e, agora, nesta segunda edição da Trienal, com uma versão também na internet, em departamentodereclamacoes.com

Obras

The Guerrilla Girls Complaints Department
[Departamento de reclamações das Guerrilla Girs], 2017
instalação
AGRADECIMENTO Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Do Women Have to be Naked to Get Into the Met. Museum?
[As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museum?],
1989-2017
banner
Free The Women Artists [Libertem as mulheres artistas], 2006-2017
banner
Disturbing the Peace [Perturbando a paz], 2009-2017
banner
Dear Billionaire Collector [Querido colecionador bilionário], 2015
banner

Daniel Escobar

Santo Ângelo, 1982. Vive em Porto Alegre

Por meio de uma arqueologia e da apropriação de materiais, Daniel Escobar transmuta imagens efêmeras de consumo e desejo, como as geradas as geradas pela publicidade para o mercado imobiliário e turístico. Em Especulação imobiliária (2014), vitrines de acrílico foram parcialmente preenchidas com peças oriundas de jogos infantis de construção encapadas com impressos de divulgação de lançamentos imobiliários. Já em Anuncie aqui (2014), o artista instalou uma placa de outdoor no espaço expositivo, disponibilizando-o para locação e veiculação de anúncios comerciais.

Outra temática abordada por Escobar são as estratégias de publicidade do mercado de arte e os mecanismos de exibição da obra de arte, entre o âmbito privado das coleções e a esfera pública. Em Conjugado (2016), um ambiente doméstico, planejado por um arquiteto de interiores, ocupa o espaço expositivo. O arquiteto teve autonomia para escolher o cômodo, o mobiliário, a iluminação e a obra do artista que compõe a decoração do ambiente. Em A arte da conversação, que apresenta na Trienal, Escobar realiza acordos para retirar cinco letras da sinalização de diferentes estabelecimentos comerciais e com elas formar a palavra “sonho”. Unidas por um novo significado, cada uma das letras indica características tipográficas e materiais do local de origem, que, enquanto isso, lida com a ausência de uma das partes do seu letreiro externo.

Obras

A arte da conversação, 2012/2017
tipografia em metal dos estabelecimentos ESAMC Sorocaba, Chamonix
Plaza Hotel, Pet Shop Canino’s, Mecalight, Sex Shop Paradise
FOTOGRAFIAS André Pinto

Daniel Caballero

São Paulo, 1972

A cidade tem papel central nas investigações poéticas de Daniel Caballero. Para refletir sobre os usos e ocupações individuais e coletivos do espaço urbano, o artista costuma coletar materiais em terrenos baldios e áreas verdes, estabelecer parcerias e propor intervenções e ações ambientais efêmeras. Em Viagem pitoresca através do espaço ao redor da minha casa oferece parte das pesquisas, coletas, intervenções e ações ambientais que tem realizado em terrenos baldios, praças e áreas verdes da Grande São Paulo. Um dos objetivos é recuperar a história e as espécies originais de uma vegetação em extinção, a do cerrado, que predomina no Centro-oeste do Brasil, mas também aparece em uma cidade como São Paulo, onde Caballero reside e trabalha.
Por meio dessa pesquisa, o artista tece uma narrativa sobre uma natureza resiliente e, em paralelo, reúne indícios para refletir sobre a documentação de arte como amostragem de um processo que acontece na vida cotidiana, para além do museu e da obra. Desta maneira, aponta a inadequação de se pensar a arte de maneira autônoma ou encerrada em um objeto material. Mais do que pôr em prática um mapeamento de áreas verdes em risco, Viagem pitoresca… articula um conjunto de acontecimentos, intervenções e transformações. Tais gestos demonstram as possibilidades da arte como ato social e político, capaz de suscitar os devires – ou ao menos as utopias – das coisas e do mundo.

Obras

Viagem pitoresca através do espaço ao redor da minha casa 03, 2017
madeira, desenhos, plantas, vídeo

Gordura Trans

Sorocaba, 2017

Gordura Trans é um coletivo provisório criado a partir do convite de Miro Spinelli, que desenvolve o projeto performativo continuado de mesmo nome.

O projeto Gordura Trans é uma plataforma de pesquisa que propõe obras seriadas em performance, partindo da relação entre o corpo gordo e materiais gordurosos diversos para investigar os processos de subjetivação desses corpos e o modo como são percebidos.

O coletivo é formado, além de Miro, pelas performers Jota Mombaça, Jup do Bairro e Lucas Moraes e pelo fotógrafo Francisco Costa.

Obras

Gordura trans #16, 2017
performance
PERFORMERS CONVIDADAS Jota Mombaça, Jup do Bairro e Lucas Moraes

Gordura localizada #6, 2017
performance
PERFORMERS CONVIDADAS Jota Mombaça, Jup do Bairro e Lucas Moraes

Gordura saturada #3, 2017
performance
PERFORMERS CONVIDADAS Jota Mombaça, Jup do Bairro e Lucas Moraes

Pedro França

Rio de Janeiro, 1984. Vive em São Paulo

Através de gestos como rasgar, amassar, rasurar, colar, quebrar e manchar, Pedro França tem investigado formas de evocar um lugar de murmúrio e indeterminação, além de assumir como positivos, processos de desmontagem e destruição. Interessado em uma escala que possibilite experiências imersivas, seus trabalhos recentes estabelecem diálogos diretos com a Cia. Teatral Ueinzz, da qual é também integrante. Configura-se, assim, uma produção que se desloca entre o lugar dos objetos de cena, em peças de teatro, e o de obras de arte para exposições.
Em instalações como Ueinzz Mix #1 (Cais de ovelhas) (2015) e Especulante paraíso (2016), França combina estruturas, objetos e fragmentos de materiais diversos em emaranhados que parecem se multiplicar e proliferar como fungos, sem contornos bem definidos nem hierarquia evidente entre as partes. Roupas, tapeçaria e materiais como madeira, papéis, plásticos, alumínio e cimento são apropriados e virammatéria-prima das obras.
Na Trienal, o artista apresenta Archichroma (2017), um vídeo e uma instalação na área do anfiteatro externo do Sesc. A filmagem foi feita no período da montagem da mostra, usando a técnica de chroma key, bastante usada para se substituir o fundo de um estúdio por cenários projetados em imagem. Em Archichroma, por sua vez, são as figuras que se tornam superfícies de projeção, podendo então se camuflar e desaparecer ou serem vistas como outras coisas.

Obras

Archichroma, 2016
vídeo e objetos
AGRADECIMENTOS Yuli Yamagata

Maria Thereza Alves

São Paulo, 1961. Vive em Berlim

Um vazio pleno (2017) discute a omissão da presença indígena na história de Sorocaba. Em colaboração com o ceramista guarani Maximino Rodrigues, Alves confeccionou réplicas de urnas funerárias, moringas e cacos presentes no Museu Histórico Sorocabano. O material foi inserido em diversos pontos na região central da cidade, reinscrevendo sua presença no espaço público e no imaginário local.

Em diálogo com a família do líder guarani Joaquim Augusto Martim, fundador da Aldeia Yyty, no pico do Jaraguá, a artista convidou as educadoras guarani Eunice Martim e Poty Poran para realizar uma conferência sobre a realidade guarani no estado de São Paulo. A fala teve início no largo de São Bento, diante do monumento a Baltasar Fernandes, bandeirante fundador de Sorocaba, e foi seguida de caminhada até a praça Dr. Arthur Fajardo, junto ao monumento a Rafael Tobias Aguiar, fundador da Polícia Militar.

O conjunto de entrevistas em vídeo, apresentadas na unidade, foram gravadas com câmera de celular por estudantes indígenas no campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), como parte de um workshop de arte contemporânea indígena ministrado pela artista.

Obras

Um vazio pleno, 2017
técnica mista
FABRICAÇÃO DE CERÂMICA Maximino Rodrigues, Michely Aquino Vargas, Aldeia Jaguapirú
WORKSHOP DE CERÂMICA Giselda Pires de Lima Jera, Aldeia Tekoa Kalipety
PALESTRA Poty Poran Turiba Carlos, Aldeia Tekoa Tenode Porã e Eunice Augusto Martim, Aldeia Tekoa Yyty
FOTOGRAFIAS Michely Aquino Vargas
ASSISTENTE DE PROJETO Wilma Lukatsch
POSTER Valeria Hasse
PRODUÇÃO E DIREÇÃO DOS VÍDEOS  PET Conexões Saberes Indígenas ( tutoria: Profa. Dra. Monica Caron ; estudantes: Alberto Cruz, Jeika Kalapalo, Jheniffer B. Oliveira Pêgo, Kelly Holanda B. Caetano, Laerte R. Tsimbarana’õ, Lucas Pinto Quirino, Lucilma I. Spinelli, Nailson M. Tomaz, Rayana da S. Freire, Rosângela B. Braga, Samuel Afonso e Solange T. Paique)
EDIÇÃO DE VÍDEOS Bruno Lotelli
AGRADECIMENTO Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba (UFSCar); Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS); Associação Bethel; Capela Senhor do Bonfim João de Camargo